Relatório trimestral sobre o mercado transacional brasileiro – 1Q25

Fusões e Aquisições movimenta BRL 39,6bi no primeiro trimestre de 2025

  • No primeiro trimestre foram registradas 399 transações
  • Setor de Internet, Software & IT Services é o mais ativo do ano, com 79 transações
  • Em Venture Capital, registra aumento de 33% no valor total investido

O mercado transacional brasileiro registrou um total de 399 transações e movimentou BRL 39,6bi no primeiro trimestre de 2025, de acordo com o relatório mensal do TTR Data (ttrdata.com).

Esses números representam uma diminuição de 2% no número de transações em relação ao mesmo período de 2024. Do total das transações, 34% possuem os valores revelados e 80% das operações já estão concluídas.

O setor de Internet, Software & IT Services foi o mais ativo no período, com um total de 79 transações, contabilizando o mesmo volume em relação ao mesmo período de 2024. Em segundo lugar está o setor de Real Estate e Banking & Investment, com 33 e 29 transações, respectivamente. 

Operações do mercado transacional de 1Q2023 até 1Q2025

Fonte: TTR Data.

Âmbito Cross-Border

No primeiro trimestre de 2025, as empresas brasileiras escolheram os Estados Unidos como seu principal destino de investimento, com 29 transações e um total de BRL 503,31m, seguido por Portugal com quatro operações.

Os Estados Unidos e a Holanda, com 34 e 10 transações, respectivamente, são os países que mais investiram no Brasil. 

As empresas norte-americanas que adquirem empresas brasileiras registraram uma queda de 24% em comparação com o mesmo período do ano passado. As aquisições estrangeiras nos setores de Tecnologia e Internet diminuiram em 22%.

Em relação aos fundos estrangeiros de Private Equity e Venture Capital que investem em empresas brasileiras, houve uma diminuição de 20% até março.

Private Equity, Venture Capital e Asset Acquisitions

Em Private Equity, foram contabilizadas 22 transações e um total de BRL 6,5bi no período, registrando uma queda de 35% no número de operações, em comparação com o mesmo período de 2024.

No âmbito do Venture Capital, foram realizadas 91 rodadas de investimento, movimentando um capital de BRL 3,0bi, o que resulta um aumento de 33% no valor investido.

No segmento de Asset Acquisitions, foram registradas 65 transações e um total de BRL 8,4bi no primeiro trimestre, representando um aumento de 6% no capital mobilizado, em relação ao mesmo período do ano passado.

Transação do trimestre

A transação destacada pelo TTR Data no primeiro trimeste de 2025, foi a conclusão da aquisição de 60% da Reframax Engenharia pela Shinagawa Refractories. O valor da transação é de BRL 600m.

A operação contou com a assessoria jurídica em lei brasileira dos escritórios Demarest Advogados; e Madrona Fialho Advogados. Do lado financeriro, contou com a asessoria dp Brasilpar; e Houlihan Lokey.            

Entrevista com Galapos

Maurício Bergamaschi, sócio fundador da Galapos e responsável pela área de M&A, conversou com o TTR para esta edição, e identificou quais setores mais promissores nos segmentos de M&A, Private Equity e Venture Capital no Brasil em 2025: “A tecnologia segue em destaque, com ênfase em SaaS, cibersegurança e inteligência artificial. Além deles, corretagem de seguros, varejo alimentar, produtos biológicos e geração de energia aparecem como áreas relevantes para buscar oportunidades. O agronegócio, em especial, vem sendo o grande propulsor da nossa economia e deve passar por grandes transformações, o que abre mais espaço para transações. Esses segmentos combinam crescimento projetado, potencial de inovação e economias de escala, fatores que costumam atrair capital mesmo em períodos de maior cautela.”

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Ranking de assessores financeiros e jurídicos

O relatório publica os rankings de assessoria financeira e jurídica do primeiro trimestre de 2025 em M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercados de Capitais, onde a atividade dos assessores é refletida pelo número de transações e pelo valor total.

Quanto ao ranking de assessores financeiros, por número de transações e em valor lidera em 2025 a Banco Itaú BBA, com 10 operações um total de BRL 7,5bi.

No que se refere ao ranking de assessores jurídicos, por número de transações e em valor em 2025 lidera o escritório Mattos Filho, com 21 operações econtabilizando um total de BRL 9,0bi.

Dealmaker Q&A

TTR Data Dealmaker Q&A com Maurício Bergamaschi Co-Founder e VP de M&A da Galapos

Maurício Bergamaschi

Sócio fundador da Galapos e responsável pela área de M&A. Formado em economia pela Universidade Federal do RS e certificado pela Alliance of Merger & Aqcquisition Advisors, carrega mais de 30 transações concretizadas nos últimos anos.


Considerando o atual cenário de maior seletividade nos investimentos, como a Galapos está equilibrando seu foco nos segmentos de M&A, Private Equity e Venture Capital no Brasil em 2025? Quais setores vocês identificam como mais promissores nesse contexto?

Vivemos um momento de juros elevados e instabilidades políticas, o que não é novidade no Brasil. Mesmo em anos mais turbulentos, a atividade de M&A permanece ativa, com cerca de 1.500 transações anunciadas por ano. Esse momento, porém, aumenta a seletividade e percepção de risco dos investidores, por isso nos mantemos flexíveis nos diferentes segmentos — M&A, Private Equity e Venture Capital — justamente por entender que boas oportunidades sempre podem surgir.

Fundos de private equity e venture capital, por exemplo, normalmente trabalham com regras de retorno mais agressivas, exigindo evidências claras de crescimento consistente e acelerado das empresas avaliadas.

Já com players estratégicos, há sempre espaço para alavancar sinergias e criar valor de forma mais imediata, o que tende a tornar essas transações mais atrativas em cenários turbulentos.

Em relação aos setores promissores para 2025, a tecnologia segue em destaque, com ênfase em SaaS, cibersegurança e inteligência artificial. Além deles, corretagem de seguros, varejo alimentar, produtos biológicos e geração de energia aparecem como áreas relevantes para buscar oportunidades. O agronegócio, em especial, vem sendo o grande propulsor da nossa economia e deve passar por grandes transformações, o que abre mais espaço para transações. Esses segmentos combinam crescimento projetado, potencial de inovação e economias de escala, fatores que costumam atrair capital mesmo em períodos de maior cautela.

O ambiente regulatório brasileiro tem evoluído significativamente nos últimos anos. Quais são os principais desafios que a Galapos enfrenta atualmente em relação à regulação ao assessorar transações de M&A? Como fatores como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e as diretrizes do CADE impactam suas operações?

Nossa atividade sempre foi baseada no extremo sigilo, além disso, como fazemos parte de uma grande instituição financeira, seguimos diretrizes extremamente rígidas em termos de compliance e confidencialidade em geral. Por tudo isso, sempre enxergamos incrementos regulatórios com bons olhos, pois isso ajuda a filtrar o mercado e evidenciar os prestadores de serviços que atuam com seriedade.

Quanto ao CADE, entendemos que existe espaço para que o órgão evolua em relação a prazos e processos. Além disso, seria saudável categorizar melhor as transações: não faz sentido uma transação meramente imobiliária percorrer o mesmo rito que a venda de uma empresa que representa um ato de concentração de fato. Por vezes, essa generalização acaba encarecendo e alongando demasiadamente o prazo de transações bastante simples.

O Brasil tem mantido uma posição de destaque no mercado de M&A da América Latina. Quais fatores você acredita que consolidaram esse protagonismo? Como você enxerga a evolução da participação do Brasil no mercado regional nos próximos anos?

O tamanho do seu mercado consumidor — quase metade da população do continente — é fator impossível de ser desconsiderado. Além disso, a resiliência da economia atrai quem pensa em longo prazo, mesmo em ambiente de instabilidade política, jurídica, fiscal e cambial. Seguimos sendo um país de oportunidades, do futuro, muito pela nossa incapacidade de preencher esses gaps claros em produtividade, infraestrutura, logística… O investidor vê o copo meio cheio, ou seja, quem preencher esses gaps vai gerar muito valor.

Se conseguirmos avançar em reformas jurídicas e tributárias que garantam competitividade e um ambiente de negócios mais estável, teremos muita pista para geração de negócios, investimentos de Fundos, VC e estrangeiros, novas consolidações. Caso contrário, corremos o risco de perder parte desse protagonismo para outros países da América Latina que vêm se esforçando para atrair esses capitais.

Questões ambientais, sociais e de governança (ESG) estão ganhando relevância no universo dos investimentos. Como esses critérios estão sendo incorporados nas avaliações e assessorias de M&A da Galapos? Vocês percebem um impacto significativo das práticas ESG na precificação e no fechamento de negócios?

Nossa atuação é focada no middle market, segmento que muitas vezes não consegue acompanhar todas as agendas corporativas pois vive focado na operação, nas margens, nas pessoas. Aqui o espaço é menor para ações que não impactam diretamente o resultado.

As práticas ESG até podem ser avaliadas como requisitos em transações, mas as principais discussões para preço e evolução de deals não passam por elas.

Se considerarmos os controles internos e transparência de operações como o G do ESG, aí sim, fundamental para sobreviver a uma due diligence (auditoria) por exemplo, mas considero isso mais um valor de empresa do que uma “nova regra” da sigla.

Nessa discussão fico com a visão do papa do valuation, Aswath Damodaran: à medida que incorporamos mais restrições a um sistema, a quantidade de soluções diminui – e não aumenta. Aplicado aos negócios, restringindo operações, a chance de upside por novas práticas ou novas linhas de negócio diminui, o que restringe o futuro, ou seja, preço para baixo, a menos que o cliente pague um sobrepreço às empresas aderentes às regras mais restritivas de ESG.

Não é o que estamos vendo na prática. Grandes empresas e fundos têm desembarcado desse compromisso ESG (principalmente nas políticas afirmativas), focando no que realmente sabem fazer: entregar serviços e soluções satisfatórias aos clientes, obviamente que respeitando todas as regras da legislação.

Olhando para o futuro, quais são as principais tendências que você antecipa para o mercado de M&A no Brasil?

Pelo menos desde a última década, temos visto empreendedores e empresários mais abertos ao tema de fazer seu exit, agregar mais sócios, se unirem. Muitos já iniciam seus novos negócios pensando na venda. Essa consciência favorece a atividade de M&A, tanto pela abertura das empresas ao falar sobre o tema, como ao direcionamento da governança para preferir práticas corretas desde sua fundação, seja na organização dos números, regularidades fiscais e sociais, o que é crucial para não surgir “um esqueleto no armário” ao longo das auditorias, o que derruba negócios.

Uma outra visão que temos é o entendimento de M&A como janelas setoriais que se abrem e fecham. Cada segmento assiste, normalmente em ciclos de poucos anos, à abertura de uma temporada de consolidações (aquisições dos players do segmento), seu pico e depois e retorno a poucas transações naquele setor. Há exceções (como tem sido tecnologia, que é mais perene), mas o grosso da economia é assim.

Nosso desafio como advisors na Galapos XP é estarmos atentos e anteciparmos essas janelas, de forma que ajudemos os empresários a estarem preparados para surfarem suas ondas. Como dizemos, melhor não deixar uma janela de oportunidades passar sem ao menos enxergar alguma proposta que possa ser um bom negócio. Depois que a janela se fecha, não dá para saber quando o “cavalo encilhado” passará novamente.

Relatório mensal sobre o mercado transacional brasileiro – Fevereiro 2025

Fusões e Aquisições movimentam BRL 19,9bi no primeiro bimestre de 2025

  • Setor de Internet, Software & IT Services é o mais ativo do ano, com 39 transações
  • Estados Unidos é o país que mais investiu no Brasil, com 20 aquisições
  • Volume de transações registra queda de 16% no período

O cenário transacional brasileiro foi objeto de análise no relatório mensal do TTR Data, que revelou 228 transações movimentando um total de BRL 19,9bi até fevereiro de 2025.

Esses números representam uma diminuição de 16% no número de transações em relação ao mesmo período de 2024, tal como uma queda no capital mobilizado de 35%. Do total das transações, 32% possuem os valores revelados e 77% das operações já estão concluídas.

Em fevereiro, 101 fusões e aquisições foram registradas, entre anunciadas e concluídas, e um valor total de BRL 14,0bi.

O setor de Internet, Software & IT Services é o mais ativo com 39 transações, apresentando uma queda de 17% em relação a 2024, seguido pelo setor de Real Estate, com 20 transações.

Operações do mercado transacional de fevereiro de 2024 a fevereiro de 2025
Fonte: TTR Data.

Âmbito Cross-Border

Empresas brasileiras voltaram-se principalmente para os Estados Unidos, realizando quatro transações no valor de BRL 425,83m até fevereiro de 2025, seguido por Portugal também com quatro operações. 

Por outro lado, os Estados Unidos e a Holanda lideraram os investimentos no Brasil, com 20 e oito transações, respectivamente.   

Empresas norte-americanas que adquirem negócios brasileiros registraram uma queda de 16%, as aquisições estrangeiras nos setores de Tecnologia e Internet diminuiram em 46%.

Em relação aos fundos estrangeiros de Private Equity e Venture Capital que investem em empresas brasileiras, houve uma queda de 37% em 2025.

Private Equity, Venture Capital e Asset Acquisitions

No segmento de Private Equity, houve 12 transações totalizando BRL 598m, com uma queda de 47% no número de operações.

Em Venture Capital, 37 rodadas de investimento movimentaram BRL 1,3bi, representando uma redução de 49% no número de transações.

O segmento de Asset Acquisitions registrou 41 transações e BRL 6,7bi até fevereiro, refletindo um crescimento de 26% no capital mobilizado em comparação ao mesmo período do ano passado.

Transação do mês

A transação destacada pelo TTR Data em fevereiro de 2025, foi a conclusão da aquisição pelo BTG Pactual da Julius Baer Brasil. O valor da transação é de BRL 615m.

A operação contou com a assessoria jurídica em lei brasileira dos escritórios Pinheiro Neto Advogados; e Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados. Do lado financeiro, foi assessorada pelo BTG Pactual.

Entrevista com Mello Torres Advogados

Mariana Zelmanovits, advogada Sênior na área de Mercado de Capitais do Mello Torres Advogado, conversou com o TTR para esta edição e analisou as mudanças necessárias para que o mercado de securitização tenha mais relevância no panorama de crédito privado brasileiro em 2025: “Para que o mercado de securitização tenha mais relevância no panorama de crédito privado brasileiro em 2025, é necessário enfrentar desafios que vão além da regulação. Com a alta da taxa de juros, o ano começou com um volume menor de emissões, mas acredito que ainda exista espaço para as emissões de CRI e CRA, além das estruturas de fundos de investimento.”

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Ranking de assessores financeiros e jurídicos

O relatório publica os rankings de assessoria financeira e jurídica até fevereiro de 2025 em M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercados de Capitais, onde a atividade dos assessores é refletida pelo número de transações e pelo valor total. 

Quanto ao ranking de assessores financeiros, por número de transações lidera em 2025 o Banco Itaú BBA com seis operações. Em valor, lidera o Deutsche Bank contabilizando um total de BRL 6,5bi.

No que se refere ao ranking de assessores jurídicos, por número de transações em 2025 lidera o escritório Bronstein Zilberberg Chueiri & Potenza Advogados,com 11 operações. Em valor, lidera o Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados contabilizando um total de BRL 7,7bi.

Dealmaker Q&A

TTR Dealmaker Q&A com a Mariana Zelmanovits, advogada sênior do Mello Torres Advogados

Mello Torres Advogados

É advogada Sênior na área de Mercado de Capitais do Mello Torres Advogados, com formação em Direito pela Fundação Armando Álvares Penteado e Mestrado em Direito e Mercados Financeiros pela NOVA School of Law e NOVA Information Management School.

Com uma vasta experiência no setor, Mariana é especialista na estruturação de operações, abrangendo debêntures, notas comerciais, Certificados de Recebíveis (CRs, CRAs, CRIs), Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), Fundos de Investimento em Participações (FIPs) e Ofertas Públicas Iniciais (IPOs).


TTR Data: O mercado de crédito privado Brasileiro cresceu 62% em 2024, de acordo com nosso mais recente relatório anual de Fixed Income, da TTR Data. Quais fatores jurídicos contribuíram para essa expansão e quais desafios regulatórios ainda precisam ser enfrentados?

O crescimento de 62% no mercado de crédito privado, conforme indicado no relatório anual de Fixed Income da TTR Data, reflete, a meu ver, uma combinação de fatores jurídicos e conjunturais. Do ponto de vista regulatório, os benefícios advindos da Resolução CVM nº 160, que alterou o regime de ofertas públicas, já vêm sendo verificados desde 2023. Ao longo de 2024, pudemos observar as mudanças positivas decorrentes da Resolução CVM nº 175, o marco regulatório dos fundos de investimento, que trouxe uma série de mudanças importantes para a indústria e para os investidores. 

Entendo que o fator regulatório que mais contribuiu para a expansão do crédito privado foi a Lei nº 14. 801/2024, que criou as debêntures de infraestrutura e alterou as regras relacionadas às debêntures incentivadas e aos fundos de investimento no setor. Além disso, a lei incluiu diretrizes tributárias e promoveu incentivos para captação de recursos via emissão de títulos de dívida no exterior. Em termos de crescimento, houve um aumento de mais de 75% em relação a 2023 em emissões de debêntures incentivadas. 

Adicionalmente, outros três fatores contribuem para o aumento de debêntures incentivadas e de infraestrutura foram as mudanças instituídas pela Resolução CMN nº 5.119, pela Resolução CMN nº 5.118 e pela Lei nº 14.754/2023. Essas mudanças incluem a restrição à liquidez das LCIs e LCAs, as limitações ao lastro das operações envolvendo CRIs e CRAs e a mudança na regra de tributação de fundos exclusivos, favorecendo a procura por debêntures incentivadas e de infraestrutura ainda mais por ser um título isento de Imposto de Renda para as pessoas físicas. Além disso, as debêntures de infraestrutura contam com benefícios fiscais para os emissores. 

De forma geral, a evolução regulatória mencionada deixou os títulos ainda mais atraentes e acessíveis para os investidores e para as companhias que buscam captar recursos via mercado de capitais. Em relação aos desafios regulatórios, entendo que o destaque é a reforma tributária, principalmente no que diz respeito aos fundos de investimento.


TTR Data: O setor de “Power Transmission & Distribution” liderou as emissões de debêntures com R$ 59 bi captados.  Como você enxerga a alta demanda das empresas desse setor por captação de recursos via emissão desse tipo de ativo? Há alguma particularidade regulatória que impulsiona esse setor em relação a outros? 

Como mencionado anteriormente, houve um aumento geral na emissão de debêntures incentivadas e de infraestrutura no último ano, especificamente em relação ao setor de energia elétrica, que concentrou um volume de quase 40% do volume total emitido de debêntures incentivadas. Nesse sentido, a alta demanda nesse setor tem a ver com as mudanças regulatórias já citadas. Destaco o Decreto nº 12.068/2024 que definiu condições para as licitações e para as prorrogações das concessões envolvendo o setor de “Power Transmission & Distribution”, com o objetivo de modernizar as concessões. Também é importante mencionar o Decreto nº 11.964/2024, que buscou simplificar o procedimento de enquadramento para os projetos prioritários, reduzindo a burocracia para a emissão de debêntures incentivadas. Além disso, como a alternativa de buscar financiamento além do BNDES e de bancos regionais de desenvolvimento, os emissores passaram a buscar o financiamento via mercado de capitais. 

A particularidade regulatória que impulsiona não somente esse setor, mas todos os setores de infraestrutura, são os benefícios fiscais. Especificamente em relação ao setor elétrico é a abertura do mercado livre de energia. De modo geral, a previsibilidade da receita por ser indexada à inflação favorece muito o investimento, tornando as emissões de debêntures mais atrativas se comparadas com outros setores de infraestrutura. 

Em resumo, em comparação com outros setores, as empresas de energia elétrica se beneficiam de um arcabouço regulatório mais estável e de um forte suporte governamental para infraestrutura, resultando em menor percepção de risco e maior atratividade para investidores.


TTR Data: A captação de recursos via debêntures incentivadas (Lei 12.431) apresentou crescimento de 99% em relação ao ano anterior. Na sua visão, quais os principais fatores que influenciaram esse aumento expressivo? Você acredita que o arcabouço regulatório atual é suficiente para atrair mais emissões ou são necessárias novas medidas?

Os principais fatores que influenciaram diretamente o aumento de 99% na captação via debêntures incentivadas foram as mudanças regulatórias introduzidas pela Lei nº 14.754/2023, pelo Decreto nº 11.964/2024, além do pipeline de projetos. Os governos estadual e federal ampliaram o cronograma de obras e concessões nos últimos anos, especialmente nos setores de rodovia e saneamento. Indiretamente, as alterações nas LCI, LCA, CRI e CRA, decorrentes da Resolução CMN nº 5.119 e da Resolução CMN nº 5.118, também contribuíram para esse crescimento, além da atratividade fiscal que tem beneficiado essa classe de ativo no cenário macroeconômico atual. A restrição no mercado de equity também favoreceu a busca por captação via mercado de capitais.

Quanto ao atual arcabouço regulatório, existe uma estrutura relativamente consolidada para debêntures incentivadas e, além da regulamentação mencionada para o setor de energia elétrica, destaca-se o Novo Marco Legal do Saneamento, que colaborou para que 2024 fosse um ano muito positivo para o setor de infraestrutura. No entanto, alguns pontos merecem atenção para atrair ainda mais emissões, como os projetos relacionados à energia limpa e à transição energética, que podem se beneficiar de maior clareza sobre critérios de enquadramento em debêntures incentivadas. Ademais, empresas de menor porte enfrentam desafios para cumprir todos os requisitos para emissão de debêntures.

TTR Data: Apesar da queda de 13,5% no volume captado no último ano, o mercado de securitização segue como um importante pilar do financiamento via crédito privado no Brasil. Como a regulação atual impactou a estruturação de operações envolvendo CRI e CRA em 2024? Quais mudanças você acredita serem necessárias para que esse mercado tenha mais relevância no panorama de crédito privado brasileiro em 2025?

Apesar da queda de 13,5% no volume de captação em 2024, o mercado de securitização (via CRI e CRA) ainda representa um canal significativo. As alterações introduzidas pela Resolução CMN nº 5.118 trouxeram mudanças relevantes que impactaram o mercado de securitização, restringindo uma série de estruturas realizadas anteriormente no mercado de capitais. Os principais desafios dizem respeito à elegibilidade dos emissores e à questão do lastro. Além disso, o duration também foi afetado. 

Ademais, a queda no volume de emissões de CRAs se deve, em parte, às mudanças climáticas que impactaram as safras, bem como aos pedidos de recuperação judicial das empresas do setor do agronegócio. Para que o mercado de securitização tenha mais relevância no panorama de crédito privado brasileiro em 2025, é necessário enfrentar desafios que vão além da regulação. Com a alta da taxa de juros, o ano começou com um volume menor de emissões, mas acredito que ainda exista espaço para as emissões de CRI e CRA, além das estruturas de fundos de investimento.


TTR Data: Com o avanço das práticas ESG no mercado financeiro, como os aspectos regulatórios influenciam a emissão de títulos verdes e sustentáveis? Existe espaço para novas regulamentações que incentivem essas captações?

A regulação desempenha um papel crucial na emissão de títulos verdes e sustentáveis, pois estabelece garantias e critérios que os investidores esperam quando buscam esse tipo de investimento. Há, de fato, espaço para novas regulamentações que incentivem essas captações, especialmente em termos de padronização de critérios ESG e à criação de incentivos fiscais para emissores de títulos verdes. Um grande avanço nesse sentido são as novas regras e procedimentos para estruturação de ofertas de títulos sustentáveis, que foram incluídos no Código de Ofertas Públicas da ANBIMA que passará a valer a partir de 24 de março. 

Nesse sentido, será fundamental monitorar se os compromissos assumidos pelas empresas durante a emissão atrelados à destinação de recursos e/ou vinculados as metas de sustentabilidade, estão sendo cumpridos. Esse monitoramento será essencial para fortalecer a verificação das métricas ao longo da vida do título. Além disso, será observado se a emissão é para uso de recursos ou vinculado a metas ESG. Para proporcionar maior segurança aos investidores, deverá ser emitido um parecer de segunda opinião emitido por uma entidade independente que avaliará se a oferta está alinhada com os critérios de sustentabilidade, além de haver normas para divulgação de informações aos investidores. 

Com o avanço das práticas ESG, a regulação exerce papel fundamental para conferir legitimidade e evitar o “greenwashing”. Apesar deste progresso, é importante destacar que ainda há uma ausência de padronização global, o que permite que as companhias utilizem diferentes frameworks sem um critério unificado, impactando na eficácia das medidas apresentadas.

TTR Data: Considerando o cenário econômico e regulatório para 2025, quais tendências jurídicas você prevê para o mercado de crédito privado e quais pontos merecem mais atenção por parte dos investidores e emissores?

Para 2025, em termos de tendências econômicas, o ano começou em um cenário de alta de juros. Nesse contexto, o mercado de crédito privado apresenta um número reduzido de emissões, e as empresas que planejam captar recursos têm considerado emitir papéis com prazos mais curtos. A meu ver, a perspectiva para este ano é que o ritmo de emissões via mercado de capitais siga mais lento, tendo em vista o quadro macroeconômico. Sendo assim, o ano de 2025 deve ser um ano direcionado para investimentos em infraestrutura, conforme dito anteriormente, e companhias que necessitam refinanciar suas dívidas. 

Em termos de tendências jurídicas, espera-se um aumento no acesso de companhias de menor porte através do mercado de capitais por meio do regime FÁCIL, que está entre as prioridades da CVM para este ano. Além disso as novas regras e procedimentos para estruturação de ofertas de títulos sustentáveis, que foram incluídos no Código de Ofertas Públicas da ANBIMA, indicam uma maior intersecção entre regulação ESG e mercado de crédito privado. Por fim, no final do ano passado, a CVM anunciou a flexibilização dos requisitos de emissão e divulgação de debêntures, que irá alterar pontualmente as Resoluções CVM nº 80 e 160.

Relatório mensal sobre o mercado transacional brasileiro – Janeiro 2025

Fusões e Aquisições movimentam BRL 5,5bi em Janeiro de 2025

  • Setor de Internet, Software & IT Services é o mais ativo no mês com 14 transações
  • Estados Unidos é o país que mais investiu no Brasil, com sete aquisições
  • Volume de transações registra diminuição de 28% no período

O cenário transacional brasileiro foi objeto de análise no relatório mensal do TTR Data, que revelou 102 transações movimentando um total de BRL 5,5bi em janeiro de 2025.

Esses números representam uma diminuição de 28% no número de transações em relação ao mesmo período de 2024. Do total das transações, 36% possuem os valores revelados e 79% das operações já estão concluídas.

O setor de Internet, Software & IT Services é o mais ativo com 14 transações, seguido pelo setor de Real Estate, com 10 transações

Operações do mercado transacional de janeiro de 2024 a janeiro de 2025
Fonte: TTR Data.

Âmbito Cross-Border

Empresas brasileiras investiram em janeiro de 2025 em Portugal e nos Estados Unidos, com três e duas transações, respectivamente.

Por outro lado, os Estados Unidos e a Holanda lideraram os investimentos no Brasil, com sete e três transações, respectivamente.

Empresas norte-americanas que adquirem negócios brasileiros registraram uma diminuição de 58%, tal como uma queda nas aquisições estrangeiras nos setores de Tecnologia e Internet em 54%.

Private Equity, Venture Capital e Asset Acquisitions

No segmento de Private Equity, houve sete transações totalizando BRL 348m, com uma queda de 41% no número de operações.

Em Venture Capital, 13 rodadas de investimento movimentaram BRL 560m, representando uma redução de 61% no número de transações.

O segmento de Asset Acquisitions registrou 14 transações e BRL 1,8bi em janeiro, refletindo uma queda de 54% nas operações em comparação ao mesmo período do ano passado.

Transação do mês

A transação destacada pelo TTR Data em janeiro de 2025, foi a conclusão da aquisição da participação adicional de 50% na Comerc pela Vibra. O valor da transação é de BRL 3,5bi.

A operação contou com a assessoria jurídica em lei brasileira dos escritórios Lefosse; e Mattos Filho. Do lado financeiro, foi assessorada pelo BTG Pactual.

Entrevista com Questum

Guilherme Tossulino, sócio do Questum, conversou com o TTR para esta edição e analisou a evolução o segmento de Private Equity e Venture Capital no Brasil nos próximos meses: “O mercado de Private Equity (PE) e Venture Capital (VC) no Brasil está retomando dinamismo, impulsionado pela queda dos juros e pelo aumento da participação de investidores estrangeiros. Nos próximos meses, espera-se que os fundos de PE e VC adotem uma abordagem mais seletiva, focando em empresas com unit economics robustos e modelos de negócios resilientes. Os setores mais atrativos incluem tecnologia, saúde e agronegócio, devido à sua capacidade de inovação e adaptação às mudanças do mercado. Além disso, os critérios Ambientais, Sociais e de Governança (ESG) se tornaram parte essencial das estratégias de investimento. Investidores estão priorizando empresas que combinam crescimento sustentável com práticas responsáveis e governança sólida. Apesar dos desafios regulatórios, as perspectivas para PE e VC no Brasil são positivas, com oportunidades relevantes para investidores estratégicos e gestores de fundos que se ajustarem às novas dinâmicas do mercado.”

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Ranking de assessores financeiros e jurídicos

O relatório publica os rankings de assessoria financeira e jurídica em janeiro de 2025 em M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercados de Capitais, onde a atividade dos assessores é refletida pelo número de transações e pelo valor total.

Quanto ao ranking de assessores financeiros, por número de transações lidera o Banco Itaú BBA com cinco transações. E em valor, lidera a XP, contabilizando um total de BRL 921,50m.

Quanto ao ranking de assessores jurídicos, por número de transações lidera o Bronstein Zilberberg Chueiri & Potenza Advogados com quatro transações. E em valor, lidera o Pinheiro Neto Advogados, contabilizando um total de BRL 1,8bi.