Informe Trimestral Brasil – 4T 2020

Mercado brasileiro registra 1.549 fusões e aquisições em 2020 

Volume de investimentos em Startups brasileiras aumenta 31% 

Os Estados Unidos reduziram suas aquisições no Brasil em 18% em 2020


Patrocinado por:

Intralinks

O mercado transacional brasileiro registrou em 2020,     1.549 transações e um valor total de BRL 229,5bi, segundo dados do TTR . Isto representa uma redução de 32% do valor movimentado e uma diminuição de 5% no número de transações em relação ao mesmo período de 2019.  

Por sua vez, o número de transações manteve a tendência de crescimento iniciada no segundo trimestre e atingiu um volume de 491 negócios no quarto trimestre do ano e um valor total de BRL 81,4bi.  Na comparação anual houve uma redução de 3% no número de transações em relação ao 4T 2019.  

Ao longo de todo o ano de 2020, o setor Tecnológico foi o mais ativo e registrou 504 transações , o que representa um aumento de 19% em comparação com 2019. No segundo lugar, o setor Financeiro e Seguros aumentou em 4%, com  um total de 222 operações. Já o setor de Higiene e Saúde foi o terceiro mais ativo que com 175 transações teve um aumento de 22% na comparação anual. 

Âmbito Cross-Border 

Em 2020, os Estados Unidos reduziram suas aquisições no Brasil em 18%. Da mesma forma, Fundos de Private Equity e Venture Capital estrangeiros também reduziram seus investimentos no Brasil em 42%. Já em relação a aquisição de empresas de Tecnologia por investidores estrangeiros não houve variação na comparação anual. 

Os Estados Unidos continuam sendo o principal investidor no Brasil e estiveram envolvidos em 119 aquisições em 2020, o segundo país que mais investiu no Brasil esse ano foi a Alemanha com 22 transações, e os terceiros más ativos foram a Espanha, o Reino Unido e o Canadá, que estiveram envolvidos em 15 aquisições no Brasil cada um deles.  

Em relação à atuação brasileira no exterior, Estados Unidos é o destino favorito na hora de realizar investimentos, com 24 transações registadas em 2020. O segundo lugar onde o Brasil investiu mais esse ano é a Colômbia com nove transações. 

Private Equity

Em 2020, foram registrados 124 investimentos realizados por os fundos de Private Equity, dos quais 42 tiveram valor divulgados que somaram BRL 11,5bi, o que representa uma redução de 55% na comparação anual.  

Venture Capital 

Os fundos de Venture Capital movimentaram um total de BRL 18,6bi em 2020, aumento de 71% em relação a 2019. Foram 421 rodadas de investimento, o que representa um crescimento anual de 35%. O setor mais ativo foi o de Tecnologia com 269 transações, aumento de 32% na comparação anual. O setor de Financeiro e Seguros apresentou 84 transações, crescimento de 29% e o terceiro setor mais ativo foi o de Higiene e Saúde com um salto de 132% em relação a 2019, com 44 investimentos. 

Transação do trimestre 

A transação destacada pelo TTR no 4T20 foi a aquisição de ativos móveis e licenças da Oi, por parte do consórcio formado pelas operadoras Telefônica Brasil, Tim e Claro. A operação do setor de telecomunicações móveis movimentou BRL 16,5bi. 

A transação contou com a assessoria legal em lei brasileira dos escritórios BMA – Barbosa Müssnich Aragão, Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, Pinheiro Neto Advogados e Veirano Advogados. A assessoria financeira ficou por conta do Banco Merrill Lynch Brasil, Banco BTG Pactual, Banco Itaú BBA e Deloitte. 

Ranking de assessores Jurídicos e Financeiros

O informe publica os rankings de assessores financeiros e jurídicos em  2020 en M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercado de Capitais, onde se informa a atividade das firmas destacadas pelo número de transações e pelo valor total das mesmas.

Dealmaker Q&A

Conteúdo disponível em português e inglês

TTR DealMaker Q&A con Carlos Lobo, sócio do Veirano Advogados

Carlos LoboVeirano Advogados

É sócio do Veirano Advogados e atua principalmente nas áreas de fusões e aquisições, private equity e mercado de capitais. Carlos atua predominantemente nas área de energia, infraestrutura e Telecom/Tecnologia. É formado em direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e possui mestrado pela Columbia University em Nova Iorque.


TTR: As fusões e aquisições em 2020 tiveram um primeiro trimestre “recorde” no Brasil, mas no início da crise de saúde COVID-19, a tendência mudou consideravelmente: como você descreveria a situação atual dos players no mercado transacional no Brasil nesta “Nova Realidade”?

C. L.: Passado um primeiro momento de incerteza no começo da pandemia, quando várias operações de Fusões e Aquisições foram suspensas, o mercado começou a reaquecer a partir de junho, principalmente liderado pelos fundos de Private Equity nacionais e estrangeiros. Este segundo semestre está bastante aquecido com um perfil variado de players e setores, mas observa-se uma predominancia dos fundos de Private Equity e companhias abertas como compradores. Setores como tecnologia e energia renovável foram menos afetados que os demais e mantiveram um volume considerável de operações ao longo de todo o ano.

TTR: Veirano Advogados é um dos principais assessores de M&A do setor de tecnologia do Brasil de acordo com o ranking jurídico do TTR. Como você avalia o crescimento do setor em 2020 e quais as perspectivas de médio e longo prazo?

C. L.: Este movimento não começou este ano. O setor de tecnologia vem sendo um dos mais ativos em termos de Fusões e Aquisições no Brasil nos últimos cinco anos e acredito que esta tendência deva continuar pelos próximos anos. Vários fatores explicam esse fenômeno. Em primeiro lugar, uma questão cultural, tendo em vista que brasileiros, quando comparados a outros países, passam bastante tempo na internet e são consumidores habituais por meio de e-commerce. Em segundo lugar, o uso disseminado de smartphones e o bom nível de banda larga nos grandes centros permite a realização de transações digitais. Esse ambiente é favorável ao surgimento de variadas empresas do setor de tecnologia. Além disso, o perfil empreendedor do brasileiro, que tem boa formação técnica, aliado a uma indústria de Venture Capital bastante ativa, tem contribuído para esse movimento. Por fim, o surgimento de diversas fintechs no Brasil tem impulsionado o processo de aquisições no setor tecnologia para o setor financeiro.       

TTR: Quais as três mudanças mais importantes que o mercado de fusões e aquisições pode apresentar no Brasil para o quarto trimestre e início de 2021? Quais setores poderiam oferecer maiores oportunidades para investidores com potencial financeiro?

C. L.: Não vejo grandes mudanças no setor até o final do ano e começo de 2021. Acho que setores como tecnologia, energia renovável, saúde e serviços financeiros devem continuar entre os mais ativos.

TTR: Considerando sua experiência em Private Equity, como você espera que esse tipo de investimento evolua em 2021?

C. L.: Acredito que os fundos de Private Equity devem continuar bastante ativos em 2021. Eles estão bem capitalizados e a atual conjuntura econômica, com empresas em situação financeira difícil combinada com a desvalorização da moeda, tem resultado em um número elevado de oportunidades para os fundos.

TTR: Como você descreveria as medidas tomadas pelo governo brasileiro para enfrentar a crise empresarial causada pelo impacto do combate à COVID-19? Que outras medidas são necessárias no curto prazo para garantir a recuperação econômica?

C. L.: Acho que faltou uma atuação mais coordenada do governo federal para evitar o elevado número de casos no Brasil e um apoio maior para as empresas que estão enfrentando dificuldades financeiras. Acho que o governo deveria impor maiores restrições para evitar a aglomeração de pessoas e reduzir o número de casos e criar um programa de apoio às empresas dos setores mais afetados, como hotelaria, restaurantes e companhias aéreas.


Versão em inglês


Carlos LoboVeirano Advogados

Carlos Lobo is a partner with the Firm and focuses his practice on mergers and acquisitions (M&A), private equity investments and capital markets. He is a specialist in the energy, infrastructure and Telecom/Technology sectors. He graduated from law school from the Rio de Janeiro State University and has an LLM from the Columbia University Law School.


TTR: Brazil registered record M&A activity 1Q20, but the trend changed considerably with the onset of the COVID-19 health crisis: how would you describe the current M&A situation and outlook in Brazil?

C. L.: After the first moment of uncertainty at the beginning of the pandemic, when several transactions of mergers and acquisitions were put on hold, the market has rebounded from June on, especially led by domestic and international private equity funds. This second semester is very busy with a different profile of players and sectors, but it is observed a predominance of private equity funds and public companies as buyers. Sectors like technology and renewable energy have been less affected and remained active throughout the year.

TTR: Veirano Advogados is one of the main advisors on M&A in the Brazilian technology sector, according to TTR’s legal ranking.  How do you evaluate the sector’s growth in 2020 and what are the medium and long-term perspectives?

C. L.: This trend has not began this year. The technology sector has been one of the most active in terms of Mergers and Acquisitions activity in the past five years and I believe that such trend shall continue for the coming years. Many factors explain such phenomenon. In first place, a cultural aspect, since Brazilians, when compared to other countries, spend a significant time  on the internet and are regular consumers through e-commerce. In second place, the ample use of smartphones  and the good availability of broadband in the main centers are beneficial for digital transactions. These factors create a favourable environment for the development of technology companies. Also, Brazilians are entrepreneurial and have good technical formation, which allied to an active venture capital industry have contributed for such trend. Finally, the emergence of fintechs in brazil have contributed to the increase of acquisitions in the technology sector related to financial services.

TTR: What are the three most important changes that the M&A market will undergo in Brazil in 4Q20 and early 2021?Which sectors should investors with ample firepower be focused on? 

C. L.: I do not anticipate any major changes in the m&a market until the end of this year and the beginning of 2021. I believe that technology, renewable energy, health care and financial services will remain among the most active sectors.

TTR: Considering your experience in Private Equity, how do you expect this type of investment to evolve in 2021?

C. L.: I believe that the Private Equity funds will continue to be very active in 2021. They are well capitalized and the current macroeconomic situation, with companies in financial distress combined with the devaluation of the currency, have resulted in a elevated number of opportunities for the funds.

TTR: How would you describe the measures taken by the Brazilian Government to support the business community in the wake of the instability caused by the fight against COVID-19? What additional measures are needed in the short term to ensure economic recovery?  

C. L.: I believe that the federal government should have better coordinated the efforts against the pandemic to reduce the number of cases and to offer better support to companies in financial distress. It should impose social distancing and other restrictions to reduce the numbers of cases and create a program of support to the companies of sectors greatly affected, like hotels, restaurants, and air carriers.

Informe Mensal Brasil – Novembro 2020

Mercado brasileiro registra 1.309 Fusões e Aquisições, até novembro

Os Estados Unidos realizaram 109 aquisições de empresas brasileiras 

Número de investimentos realizados por fundos de Venture Capital aumenta em 27% 

Setor de Tecnologia é o mais ativo com 435 transações 


Patrocinado pelos:

Intralinks
This image has an empty alt attribute; its file name is tozzini_news.png

O mercado de fusões e aquisições brasileiro registrou até o mês de novembro 1.309 transações, das quais 609 tiveram seus valores divulgados que somam BRL 183,3 bi, segundo o informe mensal do TTR. Em concreto, houve uma redução de 8,72% no volume e 39,26%  no valor total transacionado, em relação ao mesmo período de 2019

Somente no mês de novembro o TTR mapeou 120 transações e registrou um valor total de BRL 15,74bi. É um número de negócios consideravelmente inferior aos 161 registrados no mês anterior, e aos 150 de novembro de 2019. 

Os setor de Tecnologia caminha para fechar o ano como o mais ativo com 435 transações, cenário que se repete desde 2016. Somente em novembro foram realizadas 47 fusões e aquisições onde empresas de tecnologia foram target.  

Âmbito Cross-Border 

Os Estados Unidos reduziram suas aquisições no Brasil em 12,8% até novembro, mesmo assim, ainda são o investidor mais ativo com 109 transações, das quais 49 correspondem a aquisições de participações em empresas de tecnologia.   

As empresas da Alemanha aparecem em segundo lugar com 18 aquisições, sendo oito de empresas de tecnologia. A maior delas foi o acordo assinado pela Klabin para alienar a unidade de papéis para embalagens localizada na cidade de Nova Campina, São Paulo, ao Grupo Klingele Paper & Packaging, por BRL 196m. 

Em relação a atuação brasileira no exterior, os Estados Unidos são o destino favorito na hora de realizar aquisições, foram 21 transações até o fim de novembro, com oito delas tendo empresas de tecnologia como target.  

Venture Capital 

Os fundos de Venture Capital investiram um total de BRL 15,2 bi até novembro, o que representa um aumento de 52,3% em relação ao mesmo período de 2019. Foram 355 rodadas de investimento, representando um crescimento anual de 27%. O setor que mais recebeu investimentos foi o de Tecnologia, com 234 transações registradas, um aumento de 26% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Transação do mês 

This image has an empty alt attribute; its file name is BR_DOM.png

A transação destacada pelo TTR no mês de novembro foi a conclusão da venda pela Petrobras de 100% da sua participação no  Campo Petrolífero Baúna, área de concessão BM-S-40, localizado em águas rasas na Bacia de Santos, para a Karoon Brasil, subsidiária da Karoon Energy. O valor da transação foi de USD 665m.

A transação contou com a assessoria jurídica dos escritórios Tauil & Chequer Advogados Associado a Mayer Brown e Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados. O Banco BTG Pactual atuou como assessor financeiro da Karoon Brasil. 

Ranking de assessores Jurídicos e Financeiros

O relatório publica os rankings de assessores financeiros e jurídicos até setembro de 2020 en M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercado de Capitais, onde se informa a atividade das firmas destacadas pelo número de transações e pelo valor total das mesmas.

Informe Mensal Brasil – Outubro 2020

Volume de Fusões e Aquisições têm redução de 8%, até outubro de 2020

Os Estados Unidos reduziram suas aquisições no Brasil em 14% 

Startups de saúde e higiene movimentam 136% a mais em 2020 

Em 2020, investimentos em startups de tecnologia aumentam 22%


Patrocinado pelos:

Intralinks

O mercado transacional brasileiro registrou até o mês de outubro 1.133 operações com um valor total de BRL 182,9bi, segundo o informe mensal do TTR. Isto representa uma diminuição de 8% do valor movimentado e uma redução de 11% no número de transações, em relação ao mesmo período de 2019. 

Por sua vez, no mês de outubro se registraram 128 transações de fusões e aquisições entre anunciadas e concluídas, por um valor total de BRL 15,1bi. Neste caso, houve uma redução de 20% no número de transações e um aumento de 3% no valor movimentado em relação ao mês de outubro de 2019. Em 2020, após atingir o volume mais baixo do ano em abril, 78 transações, iniciou-se uma recuperação da dinâmica transacional, que atingiu seu auge em agosto, com 156 operações. 

Os setor mais ativo do ano é o de Tecnologia com 375 transações até o fim de outubro. Seguido pelo setor Financeiro e de Seguros com 159 operações e em terceiro lugar, o setor de Saúde e Higiene com 119 transações, representando um crescimento anual de 10%. 

Âmbito Cross-Border 

Os Estados Unidos reduziram suas aquisições no Brasil em 14%, mesmo assim, ainda são o investidor mais ativo com 95 transações até o fim de outubro. Fundos de Private Equity e Venture Capital estrangeiros também reduziram seus investimentos no Brasil em 32%. As empresas estrangeiras mantiveram seus investimentos no setor de Tecnologia e Internet no Brasil, com 85 transações, não houve variação em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Em relação a atuação brasileira no exterior, Estados Unidos  é o destino favorito na hora de realizar aquisições, foram 20 transações até o fim de outubro.

Venture Capital 

Os fundos de Venture Capital movimentaram um total de BRL 13,9bi até outubro, aumento de 53% em relação ao mesmo período de 2019. Foram 311 rodadas de investimento, representando um crescimento anual de 24%. O setor que mais recebeu investimentos foi o de Tecnologia, representando 67% do total, com 208 transações, aumento de 22% na comparação anual.

Transação do mês 

A transação destacada pelo TTR no mês de outubro foi a aquisição da Embacorp, incluindo as cotas representativas do capital da International Paper Embalagens da Amazônia, por parte da Klabin. A operação movimentou BRL 330m.  

A transação contou com a assessoria em lei brasileira dos escritórios Lefosse Advogados e Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados. 

Ranking de assessores Jurídicos e Financeiros

O relatório publica os rankings de assessores financeiros e jurídicos até setembro de 2020 en M&A, Private Equity, Venture Capital e Mercado de Capitais, onde se informa a atividade das firmas destacadas pelo número de transações e pelo valor total das mesmas.

DealMaker Q&A

Conteúdo disponível em Português e Inglês

TTR DealMaker Q&A com Marcelo G. Ricupero, sócio de Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados

Marcelo G. RicuperoMattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados

Marcelo G. Ricupero assessora clientes nacionais e estrangeiros em operações de fusões e aquisições e fundos de private equity. Sua atuação engloba, também, a representação de investidores, credores e devedores em operações complexas de reestruturação de dívidas. Foi advogado no escritório de Nova Iorque da Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom (EUA). Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), também possui especialização em Valores Mobiliários pela mesma universidade.


TTR: As fusões e aquisições em 2020 tiveram um primeiro trimestre “recorde” no Brasil, mas no início da crise de saúde COVID-19, a tendência mudou consideravelmente: como você descreveria a situação atual dos players no mercado transacional no Brasil nesta nova etapa?

M. G. R.: Acho que o mercado de fusões e aquisições no Brasil já deu algumas provas de que é um mercado maduro e sofisticado, ainda mais considerando as crises e dificuldades enfrentadas nos últimos anos. Embora seja verdade que, com a pandemia, as operações tiveram uma queda, acho que a maioria já voltou e novas operações também surgiram. Acho este um ponto importante. Há alguns anos, quando havia uma crise internacional, o mercado normalmente esperava a crise terminar para reaquecer. Agora, ele reaquece mesmo durante a crise. Nós estamos esperando um último trimestre bastante movimentado, embora existam fatores que podem comprometer essa expectativa.

TTR: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados é um dos principais assessores do mercado de capitais do Brasil de acordo com o ranking jurídico do TTR. Como você avalia o grande número de empresas que buscam abrir capital no Brasil em 2020 e quais oportunidades elas encontraram nos últimos meses pela situação atual do mercado local? Essa tendência de alta poderia prevalecer no médio e longo prazo?

M. G. R.: O grande catalisador das operações de abertura de capital no Brasil em 2020 me parece ser a taxa de juros, que atingiu seu ponto mais baixo na história. Com a redução das taxas de juros, houve uma migração muito grande de investidores que saíram de outros investimentos, atrelados à taxa de juros, para investimento em bolsa. Isso também explica a importância do mercado local nas ofertas recentes. Acho que essa tendência pode continuar para 2021, dependendo, claro, da taxa de juros permanecer baixa, que, por sua vez, depende de uma série de outros fatores, como fluxo de investimento estrangeiro, a discussão sobre o teto de gastos do governo, etc. Tudo está caminhando relativamente bem, e estamos esperando que as ofertas continuem em 2021. Depois de 2021, é difícil de dizer. Esse movimento é muito positivo, não só para o mercado de capitais, como também para operações de fusões e aquisições, pois as companhias que realizam as ofertas, normalmente, se capitalizam e procuram por oportunidades de consolidação.

TTR: Em relação à reestruturação societária, como está a situação atual e quais as perspectivas para os próximos meses no Brasil?

M. G. R.: Na minha visão, reestruturações societárias são instrumentais, ou seja, são feitas como parte de algum outro objetivo, seja vender um ativo, segregar negócios com perfis de risco diferentes, consolidar bases acionárias. Sendo assim, quanto maior o volume de operações, seja de M&A  ou de aberturas de capital, maior será o número de reorganizações societárias, especialmente no caso de aberturas de capital, em que uma reorganização societária prévia à operação é muito comum.

TTR: Quais as três mudanças mais importantes que o mercado de fusões e aquisições pode apresentar no Brasil para o quarto trimestre e início de 2021? Quais setores poderiam oferecer maiores oportunidades para investidores com potencial financeiro?

M. G. R.: Boa pergunta. Acho que uma tendência que vamos ver será justamente o incremento de operações de M&A envolvendo companhias que acessaram o mercado de capitais em 2020. Já estamos vendo um pouco disso, com aquisições menores, mas imaginamos que devem se intensificar. Acho que outra tendência é de operações de consolidação. Com a pandemia esperou-se que muitas companhias passariam por dificuldades, esperava-se até uma onda de pedidos de recuperação judicial, que ainda não se concretizou. Mas o fato é que, certamente, há grupos que foram afetados pela crise e isso deve representar oportunidades de consolidação. Outra tendência, já entrando na segunda questão, é de operações em mercados e indústrias que se mostraram resilientes a uma crise sem precedentes, como é esta que estamos passando. Eu destacaria alguns setores, como tecnologia, especialmente fintechs, biotechs e outras techs, life science (hospitais e farmas) e infraestrutura, especialmente energia (mercado que se mostrou quente o ano todo), saneamento (que parece ser uma das apostas da vez), e logística, incluindo ferrovias, portos, etc.

TTR: Como você descreveria as medidas tomadas pelo governo brasileiro para enfrentar a crise empresarial causada pelo impacto do combate à COVID-19? Que outras medidas são necessárias no curto prazo para garantir a recuperação econômica?

M. G. R.: Muito tímidas e de certa forma confusas, focadas nos aspectos errados. Sem entrar nas questões de saúde pública, do ponto de vista de ações para enfrentamento da crise empresarial, as medidas tomadas foram, em sua maioria, para lidar com questões emergenciais e, às vezes, até pontuais, sendo que várias MPs e projetos de lei se perderam no caminho (como o projeto de lei que mudava a Lei de Falências e Recuperação de Empresas em função da pandemia, que ficou conhecido como o projeto emergencial, pois surgiu quando já havia outro em tramitação mais avançada). Outras poucas acabaram virando lei e, de fato, lidando com temas importantes (como as que regularam assembleias virtuais, por exemplo). O que se esperava e, de certa forma, ainda se espera, é que o foco se volte para as medidas estruturais, como a questão do teto de gastos públicos, retomada da agenda de privatizações, além da aprovação de projetos de lei importantes, como a reforma – esta mais abrangente – da Lei de Falências e Recuperação de Empresas.


Versão em inglês


TTR: Brazil registered record M&A activity 1Q20, but the trend changed considerably with the onset of the COVID-19 health crisis,: how would you describe the current M&A situation and outlook in Brazil?

M. G. R.: I believe the M&A market in Brazil has already proved that it is mature and sophisticated, especially considering the crises and difficulties faced in recent years. While it is true that, with the pandemic, the number of transactions has dropped, most of them have returned to normal and new transactions have also emerged. I think this is an important point to notice. A few years ago, when there was an international crisis, the market normally waited for the crisis to end before warming up again. Now, it warms up even during a crisis. We are expecting a very busy last quarter, although there are factors that could affect this expectation.

TTR: Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados is among the top capital markets advisory firms in Brazil, according to TTR’s legal ranking. How would you characterize the large number of companies that have been looking to pursue an IPO in Brazil in 2020 and what opportunities have they been seeing in local market in recent months? Will this upward trend persist in the medium and long term?

M. G. R.: The great trigger for the IPO and follow on transactions in Brazil in 2020 seems to be the drop in the interest rate, which has reached its lowest point in history. With the reduction in interest rates, investors have migrated from other investments, linked to the interest rate, to the stock market. This also explains the relevance of the local market in recent offers. I think this trend could continue for 2021, depending, of course, on the interest rate remaining low, which, in its turn, depends on several other factors, such as the flow of foreign investment into the country, the discussion about the government spending cap, etc. Everything going relatively well, we expect offers to continue in 2021. After 2021, it is difficult to say. This movement is very positive, not only for the capital market but also for M&As, as the companies are usually capitalized after the offering and look for consolidation opportunities.

TTR: What is the current situation where your restructuring practice is concerned and what are the prospects for the coming months in Brazil in this area?

M. G. R.: In my view, corporate restructurings are instrumental to other transactions, be it selling an asset, segregating businesses with different risk profiles, consolidating shareholder bases. Therefore, the greater the volume of transactions, whether M&A or IPOs, the greater the number of corporate reorganizations, especially in the case of IPOs, where corporate reorganizations before the transaction are very common.

TTR: What are the three most important changes that the M&A market will undergo in Brazil in 4Q20 and early 2021?, Which sectors should investors with ample firepower be focused on?

M. G. R.: Good question. I think that a trend that we will see is precisely the increase in M&A transactions involving companies that accessed the capital market in 2020. We already see some of this with smaller acquisitions, but we imagine that they should intensify. I think that another trend are consolidation transactions. With the pandemic it was expected that many companies would face difficulties, even a wave of requests for judicial reorganization was expected, which has not yet materialized. But the fact is that there are groups that have certainly been affected by the crisis more than others and this should represent opportunities for consolidation. Another trend, moving to the second question, is that of transactions in markets and industries that have proved to be resilient to an unprecedented crisis, such as this one that we are going through. I would highlight some sectors, such as technology, especially fintechs, biotechs, and other techs, life science (hospitals and pharma companies) and infrastructure, especially energy (a market that has been hot all year), sanitation (which seems to be promising at the moment), and logistics, including railways, ports, etc.

TTR: How would you describe the measures taken by the Brazilian Government to support the business community in the wake of the instability caused by the fight against COVID-19? What additional measures are needed in the short term to ensure economic recovery?

M. G. R.: Shy and somewhat confused, focused on the wrong aspects. Without going into public health issues, from the point of view of actions to deal with the business crisis, the measures taken were, for the most part, to deal with emergency issues and, at times, even punctual, with several provisional presidential decrees and bills getting lost along the way (like the bill to amend the Brazilian Bankruptcy Law due to the pandemic, which became known as the emergency bill, since it appeared when there was another one in progress and more advanced). A few others ended up becoming law and, in fact, dealing with important issues (such as those that regulated virtual shareholders meetings, for example). What was expected and, in a way, is still expected, is that the focus will turn to structural measures, such as the issue of the government spending cap, the privatization agenda, in addition to the approval of important bills, such as the reform – this more comprehensive – of the Brazilian Bankruptcy Law.